sábado, 14 de novembro de 2015

Casimiro de Abreu

Meus Oito Anos...

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Imagens



Graciliano Ramos -fora romancista, escritor, contista, cronista, editor e revisor.




Graciliano Ramos de Oliveira, um dos mais fantásticos escritores da literatura brasileira do século XX. Pertenceu a segunda fase do Modernismo, foi romancista, contista, cronista, editor, revisor e escritor. Durante sua vida viveu em Viçosa, Buíque, Palmeira dos Índios e Maceió.
Aos 18 anos, muda-se para Palmeira dos Índios para cuidar da fazenda comercial do pai. Entretanto, percebe que a vida comercial não o atrai. Pensa em procurar "alguma coisa na imprensa", o que vem a se tornar realidade no Rio de Janeiro. Ao longo de sua vida, publicou várias de suas obras-primas, entre elas: Vidas Secas, publicado em 1938; São Bernardo publicado em 1934; Memórias do cárcere publicado em 1953; entre muitas outras obras.
Como vivera boa parte de sua infância, em lugar de extrema pobreza, a seca, passara fome, o sol escaldante sobre o corpo; muitas dessas questões sociais são retratadas no romance Vidas Secas, em que trata-se de uma família de retirantes do sertão nordestinos, sendo: Fabiano (o pai), Sinhá Vitória (a mãe), O menino mais novo ( o filho mais novo sem nome), o menino mais velho ( o filho mais velho sem nome) e Baleia (cachorra). Grande é a sofrência da família no sertão, passam por grandes necessidades em busca de um lar, para que possam passar por obstáculos da vida social.


Vidas Secas de Graciliano Ramos, publicado em 1938. Obra conhecido mundialmente na literatura, fora traduzido para várias línguas e idiomas.




Filme Vidas Secas de 1963 de Nelson Pereira dos Santos








Luís Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver...

Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que destina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor?
nos corações humanos amizade
se tão contrário a si é o mesmo Amor?